Sobrevivo deste troço que conhecemos por teatro e sei o quanto é foda. A vida ensinou que se não quer ajudar, então não atrapalha. Ou seja não meto o pau publicamente no trampo dos outros. Até por que, quem sou eu? Produzir no nosso país é uma merda. Não temos apoio e nem incentivo nenhum e se não nos ajudarmos... fodeu. Então se não gosto fico calado. Agora se gosto faço questão de escrever sobre, divulgar, comentar etc. Queridos leitores deste blog, encaro a escrita, mais como um exercício para o meu ralentado cérebro do que qualquer outra coisa. Não tenho pretensão nenhuma com isso a não ser dialogar comigo mesmo e na medida do possível divulgar boas coisas aqui. Enquanto digito... rio, choro, xingo, agradeço, falo alto, tudo isto sozinho. Não entendo bulhufas de nada, mas mesmo assim me arrisco entre as linhas deste texto.Talvez neste momento enquanto as informações ainda digerem na minha cabeça, esta palavra (complexo) seja a melhor, por enquanto, pra definir o novo espetáculo da cia. Antro Exposto, dirigida e coordenada por Ruy Filho. Sei muito pouco sobre ele, ou quase nada, dane-se, porque o que cara anda aprontando com a cia é o que interessa. O trabalho por si só diz pra que e por que ele veio. Confesso que peças com características semelhantes não são as que mais me agradam. Geralmente me soam como pretensiosas. Em poucas palavras tento me explicar: Tenho a impressão que a maioria das cias. ficam sempre preocupadas em querer inovar e chocar de alguma forma. E cada vez mais, talvez pela urgência, começam nos apresentar trabalhos esteticamente belos, porém sem pé e nem cabeça, ou seja, apenas estéticos e que nada dizem, sem nenhuma base e profundidade. Não que eu ache que tudo deva ser profundo, talvez seja só uma questão de ponto de vista. Mas acabam pecando por uns amontoados de informações que me suscitam após, vontade apenas de ir pra um lugar qualquer e esvaziar a cabeça. Não me instigam a pensar. Na peça que assisti, o processo é inverso. A primeira preocupação (nítida) estava em dizer algo e é a partir daí que as coisas começam se encaixar. Não se vê nada sobrando. A única vontade que tive e tenho até agora é a de ficar pensando sobre, e pensando também quando conseguirei voltar pra re-assistir e tentar absolver mais alguma coisa. Quem sabe assim paro de ficar me revirando na cama durante madrugadas. A grande ousadia da peça está na profundidade que sem vacilo nenhum atingiram. Ai sim vejo inovação e linguagem própria. O grupo consegue deixar sua impressão digital. Minha alegria foi tanta ao sair daquele teatro que precisei sair correndo de lá praticamente. Num outro momento explico porque. Fiquei fascinado com o trabalho do Ruy. Foi de uma coragem, precisão e sabedoria muito peculiar. Coragem primeiro por ter conseguido e ocupado um espaço desconhecido, junto com um monte de malucos que acreditaram na proposta e que agora estão lá fazendo acontecer. Se apresentam numa sala com pouca infra-estrutura para a realização de qualquer tipo de evento, mas souberam aproveitar e transformá-la criativamente a seus favores. Precisão, porque diante de tão complexa obra, por milímetros não escorregou e caiu na mesmice da maioria dos grupos. Só mesmo sob a regência de um grande maestro isto é possível. Sabedoria peculiar, "a frase anterior justifica" e também por levar adiante a idéia e conduzir com habilidade e muita qualidade todos aqueles atores que estavam simplesmente magníficos em cena. Estou até hoje com tudo aquilo na cabeça, tentando digerir cada coisa, mas confesso que é foda e não é toa que tem o nome que tem. COMPLEXO SISTEMA DE ENFRAQUECIMENTO DA SENSIBILIDADE. Torço para que a nova cia. ganhe definitivamente seu espaço no cenário teatral paulistano que vêm garimpando há algum tempo, sem pretensão e arrogância nenhuma. Tudo fruto de muito suor e trabalho. A não ser que a nossa ignorante mídia mais uma vez deixe passar batido tão precioso trabalho, como tem feito com muitas outras grandes obras perdidas pela imensa cidade de São Paulo. O que é muito comum. Se tem uma palavra que não gosto, (sempre quis escrever isso e não sei se é o momento mais oportuno, enfim...) porque até hoje não entendo o real significado dela... é parabéns. O mais comum é dizê-la a alguém que faz aniversário, mas pra mim é nada mais do que uma desculpa de espertinhos que chegam na sua festa sem presente algum. Por isso não a pronuncio de jeito nenhum. E gosto quando não me dizem também. Prefiro dizer muito obrigado ao grupo por ter nos presenteado com esse magnífico trabalho. E avisar aos desavisados que eles ficarão em cartaz somente até o dia 11 de dezembro, todas as quintas às 21h no Centro Cultural Rio Verde que fica na Vila Madalena na rua Belmiro Braga, 119. Mais abaixo em outro post tem o serviço.
todos
Há 10 anos
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