4.26.2010

EMVÃO por Tâmara Vasconcelos

Eu pensei no que escrever desde o começo. Tudo tão inquietante, te obrigando a pensar, a ver, a sentir. E aí eu percebi. Não há como descrever o cheiro da cera de vela queimada, o calor e as lâmpadas, ou todas as sensações. As impressões de cada um que preenchem exatamente o vão que sobra. Sentidos e percepção, EMVÃO não é um espetáculo didático, nem possível de se degustar com apenas uma observação rasa, e única. Logo, torna-se dispensável tentar traduzir em palavras as impressões que tive. Ou não, talvez seja essa a minha maneira de digerir tudo que consumi, e demora quando não é tudo mastigado. Opinião pessoal a parte, acho difícil sair do teatro e parar de pensar no que se viu. Parte do que é arte é isso. reviver o que te foi passado, e por horas horas tudo que se sente é o que a peça te proporciona. Outra coisa que eu gosto muito são metáforas, e como elas e o silêncio dizem tudo, e nada ao mesmo tempo. Café ou chá, e eu me peguei pensando que a escolha possível ao fim do espetáculo podia ser mais do que isso. E é loucura, ou talvez não, mas provavelmente sim. O que eu gosto também é o conceito do antro estar exposto. ser levado a raiz do significado. Para finalizar, eu realmente penso que todos que tiverem a oportunidade de ver (ou rever, como farei muito em breve) EMVÃO deveriam fazê-lo.
Não lembro quem disse isso, mas de alguma maneira "Eu sou porque nós somos" é uma frase que me remete a essa noite de terça.


(Tâmara Vasconcelos, atriz, jornalista, odeia o cheiro do café, bebe muito chá, mas quando ninguém está olhando beberica na xícara alheia.)

4.17.2010

4.14.2010

EMVÃO por Paulinho Faria

Alguém sabe me dizer o que é um ANTRO EXPOSTO?
Já conheci muito nego louco, mas igual a um sujeito chamado Ruy Filho, nunca. Eu acho. Quem em perfeita lucidez colocaria o nome de uma companhia de teatro de ANTRO EXPOSTO? Que porra é essa? Encontro muito com os caras, mas nunca tive as manhas de lembrar de perguntar o significado disto.
O pior ainda está por vir.
O cara tem seguidores.
Não sei quem é mais louco. Os malucos que o segue, ou ele.
Mas uma coisa é inegável, inquestionável e indiscutível. Desde que fundaram esse grupo, eles tem feito muito barulho na cena teatral paulistana. Montando peças e outros eventos como performances etc com nomes tão estranhos quanto o do grupo e com o mínimo de apoio.
ENTULHO, COMPLEXO SISTEMA DE ENFRAQUECIMENTO DA SENSIBILIDADE, agora EMVÃO e outras.
E todo esse prólogo pra poder falar desta última peça que citei. EMVÃO. Estreou semana passada, lá no espaço onde ocupam há mais ou menos dois anos, se não me engano. O elegantíssimo Centro Cultural Rio Verde, localizado na Vila Madalena, mais precisamente na Rua Belmiro Braga.
Antes de continuar preciso deixar uma coisa bem clara. Sou ator, como todos sabem e vou muito ao teatro, mas sou um sujeito um tanto burro, duro pra entender o que quer que seja. Uma piada, se eu não tiver quinze minutos pra refletir sobre, não a entendo, ou seja demoro ao menos 15 minutos pra gargalhar, se for interessante, é claro. Agora imaginem com filmes e peças mais complexas.
O trabalho anterior do grupo “Complexo...” tive que assistir duas vezes pra começar a entender alguma coisa. Assisti a primeira vez e sai doidão, transtornado e não sabia o porquê. Fiquei inquieto durante muito tempo até ter coragem de ir rever pra conseguir juntar uns cacos. Ai sim. Mas foi só depois de ter visto EMVÃO que fui entender que o que menos interessa no trabalho dessa rapaziada é entender algo. Como o próprio nome diz, “emvão”, tudo o que precisamos entender está nos vãos, nas entrelinhas. É isso? rs... E a peça te pega por uma outra via. Como as outras também me pegaram. Vixe, espero não estar endoidando de novo.
Confesso que não sou muito chegado em teatro físico, abstrato etc. Não sei se o teatro dessa rapaziada é isso, mas é foda. De tirar o fôlego. Vendo aquilo tive vontade de chorar por uma infância que jamais vou reencontrar, vontade de me atirar lá no meio daquele monte de botões e brincar com a rapaziada, como se fosse ali o poço da salvação, a recordação de belos dias que tive em cima de bikes detonadas quando moleque, sob fortes chuvas de granizo. Vontade de ficar sentado ali até começar a próxima sessão.
Pela primeira vez na vida, o trabalho corporal numa peça não me incomodou. Porque não tem nada sobrando e não é uma tentativa de demonstrar algo, oco, na maioria das vezes, mas é crucial a tudo aquilo. Tudo na peça ta bem encaixado. Pra entendermos melhor. A peça é de tirar o fôlego, como já disse, não é possível piscar e quase não se consegue respirar, porque ela te prende do começo até a hora em que deitamos na cama pra começar a sonhar.
A partir de então fica mais fácil entender porque acho todos eles muito loucos. Quando ouço o Ruy contando algumas idéias, acho todas quase impossíveis de serem realizadas e depois de um tempo o cara a realiza e o melhor, sem grana nenhuma, só com a ajuda e o trabalho árduo de toda a rapaziada. Quando me contou que ia construir um labirinto de plástico bolha, em plena praça Roosevelt pra dar uma prévia de Hamlet, achei absurdo. Dias depois lá estava eu e a diva perdidos dentro daquilo. Eles saem no peito, atrás de alguns apoiadores. Ficam sem dormir etc e conseguem realizar tudo ao que se propõem.
É, meus amigos, ainda existem pessoas com esta disposição toda, porque felizmente ainda acreditam nessa utopia que é a arte, acreditam em mudanças e o caralho a quatro. E com essa dureza toda conseguem realizar um trabalho de uma honestidade sem tamanho e uma das coisas mais interessantes pra se ver aqui em São Paulo. E a pergunta que não se cala. Até quando trabalhos e grupos como estes vão ter que passar por esse perrengue todo? Nada contra os teatrões que tem todos os patrocinadores, leis etc, mas... deixa pra lá e seguimos adiante.
O maluco do Ruy. Opa, antes de mais nada, o Ruy é um sujeito que admiro e meu amigo também. Uma madruga o abordei de sopetão na rua Cardeal Arcoverde e o convidei pra dirigir o monólogo que faço e ele muito lúcido aceitou. Que medo, confesso. Mas voltando ao que interessa. Ruy deve ter levado lá pro espaço as lâmpadas dos abajures da sua casa e fez uma iluminação sensacional. Podem acreditar. Conseguiu um
brasileiro agringalhado pra compor a trilha, e que trilha! E arrumou um quarteto de cordas pra executa-la ao vivo. Os músicos são exímios e respiram o tempo todo com os atores, contribuindo pra nos deixar pasmados. Tudo isso, não sei como, mas com certeza toparam por acreditarem muito no projeto.
O figurino é magnífico. A peça tem um classicismo que sinceramente nunca vi nada mais interessante no teatro brasileiro. Estou comparando às diversas montagens que já vi de Tchecov, Shakespeare, Ibsen etc e afirmo categoricamente que nenhuma conseguiu essa sutileza clássica. O elenco sempre surpreendente. O brother Tiago mostrou que chegou pra ficar, foi muito além das piruetas que se propôs a dar. Vê-se um grande ator. Guilherme sempre destruidor. Excelente! Raiani, encantadora. A cada trabalho mais madura e o Diego, ahhhhh, nem tenho o que falar e nem preciso.
Enfim.
Pra finalizar, só mais duas coisas. Não percam nem fodendo esse trabalho e como é bonito o sol de fim de tarde aqui na rua de casa. E o que o cu tem a ver com as calças? Eu não sei. Segue o serviço. No flyer acima. Todas as terças às 21h.
Ah, como admiro gente louca. O mundo realmente precisa de mais malucos como estes pra nos presentear com grandes obras toda a vida. Ai sim vejo esperança. Matem-a.


(+ sobre paulinho faria>> blog opankada)

4.11.2010

Telegrama em dia de estreia.....

Obrigado, queridos!

EMVÃO por Manu Rodrigues

chove também dentro da sala…
há tempos não ia ao teatro.
há tempos não via meus grandes amigos.
a arte é uma parada bem peculiar: ou você para ou você segue ou se deixa levar ou tudo ou nada…
arte é assim, beibe. é pecar. pegar. sacar.
críticas pra lá e pra cá. positivas e negativas como se o diretor fosse um átomo. nesse caso ele é atômico.
uma bomba de plasticidade sensorial que explode bem na tua cara quando você menos imagina.
foda-se se eu não entendo. se isso ou aquilo.
se o que você ouve é ruído e o que eu ouço é música.
se o que ouço é a chuva e alguns juram que são botões (ok. confesso que, quando abri os olhos, peguei o que estava no meu sapato e guardei no sutiã, para abrir o coração).
acreditem… é uma questão de subjetividade. cada um na sua. com sua dor e delícia. seu incômodo ou criado mundo.
nem todo mundo tá preparado pra aflorar as sensações. nem todo mundo tá disposto a entrar na chuva. nem molhar os pés no mar.
gosto de sentir os sentidos aguçados. mesmo que seja EM VÃO. e NUNCA é (com eles nunca é!)
na dúvida entre chá e café, tome os dois num gole só:

Ruy: obrigada por diluviar a arte de uma maneira tão peculiar… gosto de te ver incomodando os acomodados!
Família Antro: tenho um puta respeito por vocês! Seus lindos!


(+ sobre manu Rodrigues >> blog Apartamento 111)

4.02.2010

MAIS UMA VEZ NOS ASSUSTAMOS COM TAMANHA HONRA

Harry Crowl é mineiro, filho de americano, morador de Curitiba, é dificil resumir sua trajetória : estudou no Brasil e nos EUA, na Juilliard School of Music. Foi delegado brasilleiro junto à SIMC (Sociedade Internacional de Música Comtemporânea), entre 2002 e 2006. Tem participado dos principais festivais dedicados à música contemporânea no Brasil, como as Bienais de Mus. Brasileira Contemporânea (RJ), Festivais Música Nova (São Paulo/Santos), ENCOMPOR (POA), Festival Latinoamericano de Música Contemporánea (Santiago, Chile), entre vários outros. Com um catálogo até o momento, de aproximadamente, 115 obras, sua música tem sido executada e transmitida frequentemente no Brasil e em aproximadamente, 25 países em todo o mundo por grupos e orquestras, dos quais se destacam o Trio Fibonacci (Canadá), o Ensemble Recherche (Alemanha), Orchestre de Flutes Français, Ensemble 2E2M (França), Moyzes Quartet (Eslováquia), The George Crumb Trio (Áustria), Orquestra de Câmara da Rádio Romena, Orquestras Sinfônicas do Paraná e de Minas Gerais. Atualmente, é Professor da Escola de Música e Belas Artes do Paraná e Diretor Artístico da Orquestra Filarmônica da Universidade Federal do Paraná e produtor de programas de rádio da Paraná Educativa FM.
Mais? Criador da trilha de Emvão, composta especialmente para o espetáculo, durante sua estada na ilha de Gotland, na Suécia, onde viveu Ingmar Bergman, durante o mês de janeiro, sob um rigorosíssimo inverno e concluída em Curitiba. A obra pode ser ouvida a partir desta terça, no Centro Cultural Rio Verde, ao vivo, por um quarteto de cordas - Jizreel Fonseca e Patricia Maês no violino, Lemuel Cordeiro na viola e Alex Santos no violoncello. Orgulho...