Sem os recursos de produção que Gerald Thomas já teve um dia _e que ainda levanta, de vez em quando ao menos_ Ruy Filho cria imagens de grande efeito em "Complexo Sistema de Enfraquecimento da Sensibilidade".Em cartaz nos subterrâneos dos Satyros, o espetáculo enfrenta a precariedade do lugar e sai vitorioso.
Alguns instantâneos imprimem profundamente, casos do corpo (de ator) preso a todos os cantos do teatro e da bicicleta juvenil amassada, como que atropelada por um caminhão.
O espaço é especialmente significativo por indicar uma trilha de diferenciação entre Ruy Filho e sua influência assumida, Gerald.Naquele subterrâneo, para além de Gerald, as cenas de tortura remetem ao universo pop americano, PG-13, e ao mesmo tempo ao jogo realista bruto das encenações de Rodolfo Garcia Vazquez.
Deixei o teatro, já madrugada, com a cabeça cheia de conexões também com a Sadako de "Ring", com Damien Hirst e outros.Foi a minha maneira de fugir à obviedade que remetia "Complexo Sistema" a Gerald, à "Classe Morta" e outras tantas referências. Reconheço a qualidade, mas não consigo me entusiasmar com aquilo que, em Ruy, remete abertamente a criadores anteriores.Sei bem que é um dos melhores caminhos para todo artista em formação.
Lembro sempre que Antunes foi assistente de Ziembinski e Ruggero Jacobbi, que Zé Celso assistiu ao Boal. Que Luiz Fernando Marques aprendeu com Antonio Araújo, Cibele Forjaz com Zé e infindáveis outros exemplos.Aliás, Shakespeare, pelo que leio, estudou à maneira de então, primeiro copiando integralmente os textos clássicos, depois alterando, por fim criando plenamente.
Ruy Filho, me parece, está no final da transformação, ainda sob angústia da influência mas já priorizando traços próprios e fortes, que não é possível relacionar a quem quer que seja. Lenise, que percebe essas coisas como ninguém, me alerta do jovem diretor há tempos.
"Complexo Sistema", às quartas e quintas, segue em cartaz só até a semana que vem.
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