5.06.2010

EMVÃO por Carolina Brandilli

O meu problema com Ruy Filho começa assim: ele vem pro rio de janeiro em 2009, me larga uma pérola em menos de uma semana(pérola essa que se chamava complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade),pra eu ficar pensando meses e meses a fio e vai embora. ok!
Obrigada, mas a questão é, porque ficar pensando?Eu não conseguia entender direito, mas a questão ficava ali, martelando. e eu acompanhando pela internet como as coisas iam e o que se passava, ou lendo um artigo aqui e ali. Lançado Emvão , via as fotos espetaculares e ficava repetindo, preciso ir pra são paulo ver isso, preciso, preciso e nada, um dia cismei e fui e esse dia foi ontem, terça feira, dia 27.Cheguei no Rio Verde e vi um rosto familiar, pedi pra entrar mais cedo, e fiquei tentando ler mais um capítulo do livro do nietzsche, mas não consegui, por ansiedade e por que não conseguia pensar no momento,que ele escolheu um capítulo quase inteiro pra dar sua opinião sobre outros colegas de trabalho, mortos e vivos da época dele. abortei, fumei vários cigarros, andei de um lado pro outro, encontrei uma senhora elegante que me indicou simpaticamente o caminho do banheiro e contou curiosidades sobre a cachorrinha que mora ali, e depois não sei como a hora passou e entrei pro espetáculo com uma mala gigantesca e aquele traje de carioca que não sabe se vestir no frio, tudo bem, apertem os cintos e vamos lá. No primeiro momento de peça vem o primeiro tapa "quanto mais penso, menos me sobra espaço", e mais imagens perfeitas e engrenagens que davam a impressão de que tudo já nasceu pronto,ali agora no mesmo momento em que morreu e passou, e eu saí daquele universo por alguns momentos e pensei: "queria ficar na cabeça desse cara por 30 segundos, só pra entender de onde sai", mas enquanto isso, eu assistia coisas absurdas, como a sutileza do diego, que acabava que fortalecia ainda mais a presença dele, a força e a leveza do guilherme, que fazia com que realmente eu aproveitasse o texto que ele dizia, e embarcava, mas tenho que confessar que eu esperava mesmo um bom trabalho vindo deles, porque tinha um comparativo de qualidade anterior, esperava mesmo que fosse ainda melhor e foi, muito belo e bem executado, agora a minha boca se abriu mesmo pra rai e pro tiago, se abriu de um aberto descomunal, não sei se porque na outra peça eles faziam um bom trabalho também, mas era um trabalho meio camuflado, onde eles se misturavam entre si, então não dava pra saber, quem fez uma coisa boa ou outra, apenas se desenrolava, mas agora, nesse, foi diferente, eu não tenho palavras .Ela porque é uma atriz muito consistente apesar de ser bem nova ,que se entrega toda de uma forma que eu poucas vezes vi, é inteira demais! e ele porque como é difícil usar o corpo de forma acrobática sem parecer "galera, olha o que eu sei fazer com meu corpo, é demais!!" Ao contrário, ele quase me disse : "eu agora vou recitar um poema e você pode entrar se quiser, mas a boca nem vai se mexer, presta atenção" e foi, foi lindo. Os quatro se entendiam perfeitamente e me traziam coisas que dá até orgulho de pertencer a essa classe de loucos, suave destruidor e exposto, muito exposto.A trilha e os múscos eu nem preciso comentar, porque não entendo quase nada de música e na minha opinião não tinham defeitos. E acabou.Vendo os quatro ali recebendo os aplausos pensava: nossa ,merecem muito! Saí dali de dentro meio transtornada, tentando entender o máximo possível (ao meu lado tinha um cara de camiseta branca que parecia passar pela mesma coisa que eu), e não tinha ninguem pra comentar , mas ok porque não sei se conseguiria comentar mesmo, mas fez falta . Nisso vem o ruy (que nesse momento não era ruy filho, mas quase um ruy pai) me dar um abraço e foi exatamente naquele momento que estalou um tecla e eu pensei : é isso! E entendi todas as questões que vinham me perturbando a tanto tempo : nas peças do antro exposto é impossível racionalizar,por mais que se queira, não dá! (e nesse momento o meu cérebro que estava partido em tantos pedaços quanto botões naquele chão, se juntava e me trazia paz)bom pra mim que descobri isso, ruim para seu arlindo(taxista recifense que mora no tatuapé e é casado há 12 anos com a dona maria do socorro e não tem filhos, ama o rio de janeiro e pretende juntar dinheiro pra passar férias aqui e depois voltar pra sua terra pois não aguenta são paulo onde o céu ou é cinza ou é roxo ,raramente azul, mas tem trabalho) que tentava me ajudar fingindo que entendia tudo que eu tava contando nos 45 minutos que estivemos juntos.que me lê e acompanha , em silêncio , ou se manifestando vá assistir emvão! vale a pena ver são paulo e vale a pena acompanhar essa galera, que já adivinho o futuro e é grande, bem grande.

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Um comentário:

Carolina is a keeper. disse...

eu chamaria de fofura, publicar meu texto aqui ;) brigada.
(desconfio que vai começar a chover cariocas na vila madalena)