5.14.2010

EMVÃO por Luiza Novaes

Era a imagem e semelhança da página em branco. A perfeição de virar cada uma das palavras para que a musicalidade não reste na rima senão ficaria imperfeito, dentro da lógica de não perfeição. Algumas vezes era somente eu com minhas percepções que descrevia cada uma das palavras que desejava segurar ou soltar. Mas até o poeta precisa do outro para pensar como o mundo reage. Não é mesmo? Se pudéssemos estaríamos encarcerados em nossos corpos, faríamos dele um elemento de força e carregaríamos sem pena nem horror cadeiras, com nossas articulações. Mas a política do eu sempre é um pouco mais complicada. Gostava quando uma engraçadinha perguntava de que vertente eu pertencia, para falar de tal ou tal forma. E rindo, respondia: faço parte de todas as coisas que me pertencem. Quando não era desejada, simplesmente retirava-me da sala, e esperava que os comentários posteriores mais tarde a lotassem. O ciúme cabia em um pedaço dos pecados que decidi guardar. Era o corpo nu que evidenciava a clareza de nossas curvas. Mesmo no escuro. Era água lamacenta que escorria pelo seu corpo. Para cobrir suas - minhas vergonhas. Queria me separar do meu eu. Mas, não conseguia então eu tentava uma citação, para ficar um pouco menos pessoal, em vão. Tentava lembrar de nossas conversas quem sabe até fotografias de eventos que coubessem como exemplo, atividade específica e nada. O vão estava na tentativa de separar o sujeito do objeto na análise específica do que era uma peça. O que é uma peça? Pregar uma? Uma peça de um quebra cabeça. Uma apresentação. Todos sempre sabemos nossos papéis, balbuciamos uma ou outra palavra, deixamos a poesia para a música, para o corpo, para o nada. Procurava no dicionário novas palavras em nome de tentar fazer entender. É impossível. São as conversas que o indivíduo vivente passou e que não presenciamos todos os compromissos marcados, entre outros pontos impossíveis de deixarmos de levar em conta. A conta sempre sai mais cara. Principalmente quando temos visita na porta, cada vez mais próxima.


Sem porquê nem porém “ Haroldo...

E entendo o quanto o concreto foi ficando abstrato e vice versa. Na caixinha que guarda impunemente os nossos laços, de casamento, de funeral. Parece que a gente só servia para viver e morrer. Se fosse só isso. Se.

O tempo era contado pelos botões que caiam do céu, ou pela impressão de chuva. Dá pra musicar isso que a gente não ouve, e que só faz barulho lá fora.

E sempre parecia sobrar algumas palavras para murmurar no seu ouvido, e saber que tudo iria terminar bem. Apesar do suor que marcava o sovaco da camisa. Precisa de tanta roupa no país tropical? A crítica que deveria ser única mesmo que as xícaras lembrassem tão bem, que poderíamos estar somente tomando um café ou um chá, na melhor das hipóteses e nos perguntando do que era feita a tinta que tingia?

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