5.28.2010

EMVÃO por Denise Silveira

eu amo ver teatro de verdade.
ontem foi a última apresentação de
EM VÃO,
livre transcrição sobre galáxias, de haroldo de campos.
texto e concepção de
ANTRO EXPOSTO.
a direção de ruy filho impecável.
uma chuva de botões que não tem fim.
uma delícia de chuva.
nunca pensei que uma chuva de botões seria
como uma tempestade.
levei dois botões comigo,
dois botões que caíram no meu colo,
pra dar sorte.
o trabalho dos atores é incrível.
tão jovens, tão cheios de vida e de morte
pra tão pouca idade.
em cena diego torraca, guilherme gorski, raiani teichmann e tiago torraca.
quando eu nascer de novo,
quero nascer com a expressão corporal deles.
expressão corporal genuína, de ator.
quando eu nascer de novo quero tomar aquele banho de tinta preta
e ser enrolada num plástico branco.
quero acender todas aquelas velas,
tomar chá em xícaras antigas,
pisar em todos aqueles botões.
e viver ao som do violino da patricia maês

(+ sobre Denise:: fermatacafé )

EMVÃO por Felipe Chiaramonte



(+ sobre Felipe:: www.flickr.com/photos/texz )

EMVÃO por Isa Brant










5.24.2010

5.14.2010

OUVIR PATRICK GRANT.... AO VIVO

Patrick Grant se despede do Brasil com um show nesta segunda, no Centro Cultural Rio Verde.

Patrick, compositor da trilha de COMPLEXO SISTEMA DE
ENFRAQUECIMENTO DA SENSIBILIDADE, retorna ao Brasil
para a estreia de ARTIFíCIOS PRIMEIROS, solo de Tiago
Torraca e direção de Ruy Filho e também com trilha de
sua autoria.
Aguardem!

EMVÃO por Luiza Novaes

Era a imagem e semelhança da página em branco. A perfeição de virar cada uma das palavras para que a musicalidade não reste na rima senão ficaria imperfeito, dentro da lógica de não perfeição. Algumas vezes era somente eu com minhas percepções que descrevia cada uma das palavras que desejava segurar ou soltar. Mas até o poeta precisa do outro para pensar como o mundo reage. Não é mesmo? Se pudéssemos estaríamos encarcerados em nossos corpos, faríamos dele um elemento de força e carregaríamos sem pena nem horror cadeiras, com nossas articulações. Mas a política do eu sempre é um pouco mais complicada. Gostava quando uma engraçadinha perguntava de que vertente eu pertencia, para falar de tal ou tal forma. E rindo, respondia: faço parte de todas as coisas que me pertencem. Quando não era desejada, simplesmente retirava-me da sala, e esperava que os comentários posteriores mais tarde a lotassem. O ciúme cabia em um pedaço dos pecados que decidi guardar. Era o corpo nu que evidenciava a clareza de nossas curvas. Mesmo no escuro. Era água lamacenta que escorria pelo seu corpo. Para cobrir suas - minhas vergonhas. Queria me separar do meu eu. Mas, não conseguia então eu tentava uma citação, para ficar um pouco menos pessoal, em vão. Tentava lembrar de nossas conversas quem sabe até fotografias de eventos que coubessem como exemplo, atividade específica e nada. O vão estava na tentativa de separar o sujeito do objeto na análise específica do que era uma peça. O que é uma peça? Pregar uma? Uma peça de um quebra cabeça. Uma apresentação. Todos sempre sabemos nossos papéis, balbuciamos uma ou outra palavra, deixamos a poesia para a música, para o corpo, para o nada. Procurava no dicionário novas palavras em nome de tentar fazer entender. É impossível. São as conversas que o indivíduo vivente passou e que não presenciamos todos os compromissos marcados, entre outros pontos impossíveis de deixarmos de levar em conta. A conta sempre sai mais cara. Principalmente quando temos visita na porta, cada vez mais próxima.


Sem porquê nem porém “ Haroldo...

E entendo o quanto o concreto foi ficando abstrato e vice versa. Na caixinha que guarda impunemente os nossos laços, de casamento, de funeral. Parece que a gente só servia para viver e morrer. Se fosse só isso. Se.

O tempo era contado pelos botões que caiam do céu, ou pela impressão de chuva. Dá pra musicar isso que a gente não ouve, e que só faz barulho lá fora.

E sempre parecia sobrar algumas palavras para murmurar no seu ouvido, e saber que tudo iria terminar bem. Apesar do suor que marcava o sovaco da camisa. Precisa de tanta roupa no país tropical? A crítica que deveria ser única mesmo que as xícaras lembrassem tão bem, que poderíamos estar somente tomando um café ou um chá, na melhor das hipóteses e nos perguntando do que era feita a tinta que tingia?

5.06.2010

EMVÃO por Carolina Brandilli

O meu problema com Ruy Filho começa assim: ele vem pro rio de janeiro em 2009, me larga uma pérola em menos de uma semana(pérola essa que se chamava complexo sistema de enfraquecimento da sensibilidade),pra eu ficar pensando meses e meses a fio e vai embora. ok!
Obrigada, mas a questão é, porque ficar pensando?Eu não conseguia entender direito, mas a questão ficava ali, martelando. e eu acompanhando pela internet como as coisas iam e o que se passava, ou lendo um artigo aqui e ali. Lançado Emvão , via as fotos espetaculares e ficava repetindo, preciso ir pra são paulo ver isso, preciso, preciso e nada, um dia cismei e fui e esse dia foi ontem, terça feira, dia 27.Cheguei no Rio Verde e vi um rosto familiar, pedi pra entrar mais cedo, e fiquei tentando ler mais um capítulo do livro do nietzsche, mas não consegui, por ansiedade e por que não conseguia pensar no momento,que ele escolheu um capítulo quase inteiro pra dar sua opinião sobre outros colegas de trabalho, mortos e vivos da época dele. abortei, fumei vários cigarros, andei de um lado pro outro, encontrei uma senhora elegante que me indicou simpaticamente o caminho do banheiro e contou curiosidades sobre a cachorrinha que mora ali, e depois não sei como a hora passou e entrei pro espetáculo com uma mala gigantesca e aquele traje de carioca que não sabe se vestir no frio, tudo bem, apertem os cintos e vamos lá. No primeiro momento de peça vem o primeiro tapa "quanto mais penso, menos me sobra espaço", e mais imagens perfeitas e engrenagens que davam a impressão de que tudo já nasceu pronto,ali agora no mesmo momento em que morreu e passou, e eu saí daquele universo por alguns momentos e pensei: "queria ficar na cabeça desse cara por 30 segundos, só pra entender de onde sai", mas enquanto isso, eu assistia coisas absurdas, como a sutileza do diego, que acabava que fortalecia ainda mais a presença dele, a força e a leveza do guilherme, que fazia com que realmente eu aproveitasse o texto que ele dizia, e embarcava, mas tenho que confessar que eu esperava mesmo um bom trabalho vindo deles, porque tinha um comparativo de qualidade anterior, esperava mesmo que fosse ainda melhor e foi, muito belo e bem executado, agora a minha boca se abriu mesmo pra rai e pro tiago, se abriu de um aberto descomunal, não sei se porque na outra peça eles faziam um bom trabalho também, mas era um trabalho meio camuflado, onde eles se misturavam entre si, então não dava pra saber, quem fez uma coisa boa ou outra, apenas se desenrolava, mas agora, nesse, foi diferente, eu não tenho palavras .Ela porque é uma atriz muito consistente apesar de ser bem nova ,que se entrega toda de uma forma que eu poucas vezes vi, é inteira demais! e ele porque como é difícil usar o corpo de forma acrobática sem parecer "galera, olha o que eu sei fazer com meu corpo, é demais!!" Ao contrário, ele quase me disse : "eu agora vou recitar um poema e você pode entrar se quiser, mas a boca nem vai se mexer, presta atenção" e foi, foi lindo. Os quatro se entendiam perfeitamente e me traziam coisas que dá até orgulho de pertencer a essa classe de loucos, suave destruidor e exposto, muito exposto.A trilha e os múscos eu nem preciso comentar, porque não entendo quase nada de música e na minha opinião não tinham defeitos. E acabou.Vendo os quatro ali recebendo os aplausos pensava: nossa ,merecem muito! Saí dali de dentro meio transtornada, tentando entender o máximo possível (ao meu lado tinha um cara de camiseta branca que parecia passar pela mesma coisa que eu), e não tinha ninguem pra comentar , mas ok porque não sei se conseguiria comentar mesmo, mas fez falta . Nisso vem o ruy (que nesse momento não era ruy filho, mas quase um ruy pai) me dar um abraço e foi exatamente naquele momento que estalou um tecla e eu pensei : é isso! E entendi todas as questões que vinham me perturbando a tanto tempo : nas peças do antro exposto é impossível racionalizar,por mais que se queira, não dá! (e nesse momento o meu cérebro que estava partido em tantos pedaços quanto botões naquele chão, se juntava e me trazia paz)bom pra mim que descobri isso, ruim para seu arlindo(taxista recifense que mora no tatuapé e é casado há 12 anos com a dona maria do socorro e não tem filhos, ama o rio de janeiro e pretende juntar dinheiro pra passar férias aqui e depois voltar pra sua terra pois não aguenta são paulo onde o céu ou é cinza ou é roxo ,raramente azul, mas tem trabalho) que tentava me ajudar fingindo que entendia tudo que eu tava contando nos 45 minutos que estivemos juntos.que me lê e acompanha , em silêncio , ou se manifestando vá assistir emvão! vale a pena ver são paulo e vale a pena acompanhar essa galera, que já adivinho o futuro e é grande, bem grande.

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5.05.2010

EMVÃO por Caren Luci Pinto

Podem chamar de experimental. Eu vou além. Um realismo desnudo da velha roupagem do moralismo, ditadura, convenções... A metáfora mais rica de detalhes, riscos, traços, risos, indicações e certeza que eu já vi. Poesia. Prosa, verso, o inverso daquilo que é visível, mas que não é invisível e nem palpável. Em alguns momentos voltei a ser criança. Banho na chuva, pedrinha no lago, escutei a minha mãe chamando "Entra filha. Tá tarde!". Em outros me senti uma adulta querendo voltar a ser criança, mas presa pela referência, muitas vezes amarga, que a vida nos dá. Consegui pensar em mil coisas ao mesmo tempo, curtir o momento, participar (mesmo que sentada) com o olhar fixo, algumas vezes marejado, ou acompanhado de um sorriso espontâneo sem saber se era mesmo o momento de sorrir. Como é possível que poucas pessoas, num espaço pequeno, consigam tornar grande a nossa imaginação. Vi a alma dos atores, do diretor, dos músicos. A sinergia com o palco, objetos cênicos. Sincronia com os "efeitos sonoros" e trilha. Cumplicidade com cada gota de botão que caía. Fui tocada por um deles, literalmente. Peças como essa, fazem nós artistas acreditarmos que a arte não está totalmente banalizada. E nós, humanos, acreditarmos que é impossível ser feliz sem arte. Quando saí queria mais. E aí sim se fez o vão!

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